Portugal
passou por inúmeras dificuldades até conseguir conquistar sua independência na
península Ibérica, ela está muito ligada à diferenciação das atividades
econômicas da região e as rivalidades dos grupos feudais. Mas esta conquista
também não era estável, visto que existiam inúmeros conflitos internos durante
este período que perduraram até o reinado de D. Afonso III
Além
de enfrentar os conflitos político-militares, eles também tiveram de lidar com
a invasão dos mouros, o que fez com que cavaleiros de toda parte viessem para
Portugal para lutar e deixassem para trás suas esposas e donzelas apaixonadas,
tema bastante abordado nas cantigas trovadorescas. Depois de conseguir expulsar
os mouros, Portugal começou a ser impulsionado para o progresso, com isso, a
Igreja ganhou mais poder visto que a visão teocêntrica era dominante, afinal
não poderia se existir feudalismo sem teocentrismo e vice-versa.
Portugal
alcançou o seu ápice de desenvolvimento comercial com o reinado de D; Dinis,
este rei incentivou inúmeras atividades importantes para a nação Portuguesa,
inclusive a construção da Universidade Portuguesa, ele também foi um grande
trovador. Com o tempo, houve modificações drásticas no cenário político de
Portugal, principalmente com a dinastia de Avis, que marcou a vitória da
burguesia, levando o país para novos rumos como as grandes navegações e
descobertas de novos territórios.
Ainda
no contexto medieval, no meio de uma sociedade temente a Deus e muito
influenciada pela igreja, surgem as novelas de cavalarias que são uma evolução
das canções de gestas (poesias de temas guerreiros). Elas, na realidade, são
originárias da França e da Inglaterra e foram divididas em três ciclos: o
clássico, ou Greco- latino, o carolíngio e o Bretão ou arturiano. Em Portugal o
ciclo que se desenvolveu, de fato, foi o bretão. Utilizando-se da “matéria
Britânica”, as novelas de maior destaque é José de Arimateia, Merlin e A
demanda do santo Graal. Também podemos incluir o Amadis de Gaula que acompanha
este ciclo, mas que já faz parte de um período diferente.
Sabemos
que a versão portuguesa de Merlin foi perdida e restou apenas a espanhola, mas
as outras três foram conservadas e são as mais conhecidas. Essas novelas de
cavalaria são traduções portuguesas das obras originais e são as primeiras
formas de prosa portuguesa. A igreja, a fim de passar valores para a sociedade,
foi uma grande influente nessas adaptações, através das novelas de cavalaria
ela impôs a imagem do cavaleiro, até então visto como um homem sujo e desonesto
que violava mulheres e saqueava por onde quer que passasse mesmo estando a
serviço de Deus, como um homem íntegro,
leal e casto.
Nas
novelas de cavalaria, o amor não é mais platônico como nas cantigas
trovadorescas, ele é correspondido pela senhora que por ser casada deve
contê-lo. Isso é chamado de “amor cortês”, na maioria das vezes, o casal não
tem um final feliz e é severamente punido por cometer o pecado de amar. Um
grande exemplo deste amor cortês é a relação entre Lancelotte e Guinevere.
Logo, é ressaltada nestas novelas de cavalaria a castidade do cavaleiro, para
ser um bom cavaleiro, é necessário manter-se casto e leal ao seu senhor. Assim,
observa-se que na demanda do santo Graal, toda espécie de amor é considerada
pecaminosa.
Fazendo
um breve comentário a respeito destas obras, na primeira, José de Arimateia,
conta-se a história de José que era da cidade de Arimateia que acompanhou os
passos de cristo, depois de sua morte, ele guardou o seu sangue em um santo
vaso que guardou por toda a sua vida, até mesmo quando esteve preso
alimentando-se dele. Depois de sua morte, ele passou este vaso para o seu filho
e mais adiante ele seria conhecido como o Santo Graal, que é o tema principal
da Demanda do Santo Graal.
Em
a Demanda do Santo Graal, contam-se as aventuras do rei Arthur e os seus
cavaleiros da távola redonda. Lancelotte é considerado o melhor cavaleiro do
mundo, mas a narrativa descreve a sua única falha. Embora seja um homem casto,
ele nutre um amor secreto pela rainha Guinevere, mulher de Arthur, o qual é
correspondido pela mesma. Este amor simboliza o cavaleiro terreno que não
consegue alcançar a divindade por pecar. Quando é organizado a demanda para ir
em busca do Santo Graal, Lancelotte ainda decide participar, mas ele,
influenciado por Merlin, acaba se envolvendo com uma princesa acreditando
veemente ser ela a mulher que ama e assim nasce Galaaz.
Seu
filho Galaaz é o ideal do cavaleiro celestial, pois segue uma vida correta e nunca
conhece o amor por mulheres, dedica-se na expedição em busca do Santo Graal e o
encontra, o que prova que ele é sim o cavaleiro celestial. Logo, podemos
perceber o quanto os preceitos religiosos são impostos nesta obra, pois, ela
descreve que a partir do cavaleiro
terreno, nasce um ser melhor que é o cavaleiro celestial.
Já
o Amadis de Gaula é um tanto diferente das outras novelas de cavalaria, nela o
amor se consolida e já se pode perceber um novo comportamento do homem em
relação a sociedade. Um dos problemas que envolvem essa obra é a sua
autoria. Não se sabe ao certo quem a
escreveu, pois esta é a única novela de cavalaria que não estava presente na
biblioteca de D. Duarte. Existem os que defendem a tese de que ela é de autoria
portuguesa e aqueles que defendem que é de autoria castelhana, mas até hoje não
se entrou em um consenso.
O
Amadis de Gaula fala a respeito do amor proibido de uma princesa (Elizena) com
o rei Perion que resulta no nascimento de Amadis. Como a princesa não podia
cuidar dele, pois na época era uma atrocidade uma donzela engravidar antes de
se casar, sua criada Darioleta botou-o dentro de um cesto e colocou-o no rio.
Essa parte da história muito se assemelha a história de Moisés, e assim que um
casal simples o encontrou, decidiu cuidar dele. Amadis cresceu e tornou-se
cavaleiro e sua missão foi cuidar de uma princesa chamada Oriana da corte de
Lisuarte. Acontece que os dois se apaixonam e o amor de Amadis por esta senhora
é tão intenso que ele arrisca sua vida em muitos momentos para salvá-la e
provar-lhe que a ama, logo, existe sim a servidão total do cavaleiro a senhora,
mas diferente das outras novelas de cavalaria, além deste amor ser
correspondido, ele também é consumado.
Essas
novelas de cavalaria ainda são utilizadas em diversos textos até os dias de
hoje, mas ganharam, é claro, uma nova roupagem. São fontes de estudo
extremamente importantes para compreender a sociedade da época, seus costumes,
gostos e valores, mesmo que nestas obras, em alguns momentos se apresentem
temas místicos, como o mago Merlin, ainda assim são grandes obras de cunho
épico que nos remete a sociedade portuguesa em transição.
Referências bibliográficas:
LOPES, Oscar; SARAIVA,
Antônio José.Gênese da ficção medieval em prosa.In: História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editoraa, 2001. P.
93 -99.