Gêneros textuais é um assunto extremamente importante e atual, principalmente para os futuros professores de língua materna, pois é uma nova proposta que não visa somente o ensino da gramática pela gramática, mas uma reflexão a respeito das diversas esferas sociais e os gêneros que nelas estão inseridos. Através da perspectiva dos gêneros textuais, o aluno aprende onde e quando utilizar o que aprende na escola em suas diversas situações comunicativas, portanto, é importante para nós, futuros professores, estarmos atualizados!
Então, segue ai umas questões acerca do assunto que devem estar esclarecidas na nossa mente.
1 – Conceitue Gêneros textuais/discursivos,
segundo embasamento teórico em Marcuschi e Koch.
R: Os gêneros
textuais/discursivos abarcam a grande diversidade de textos que ocorrem nosdiferentes
ambientes sociais, os quais são materializações lingüísticas do discurso. Na
visão de Marcuschi, caracterizam-se “como eventos textuais altamente maleáveis,
dinâmicos e plásticos.” (Marcuschi, p.19,2005). Surgem de acordo com a
necessidade comunicativa das pessoas e são, segundo Bakhtin, formas de
enunciados relativamente estáveis. Koch & Elias, por sua vez, reforçam a
ideia de que são inúmeras as vezes em que não somente lemos, mas nos
comunicamos através de textos diversos e por isso seria impossível
contabilizá-los, pois os gêneros estão profundamente ligados a vida das pessoas
e atualmente estão sendo sistematicamente estudados por profissionais da área
da linguística.
2 - Quando e onde estão
presentes os gêneros?
R: Estão presentes no
cotidiano das pessoas, inseridos nas mais diversas esferas sociais, seja
através de um diálogo, uma carta, um telefonema e entre outros gêneros que são
usados para a comunicação social. Cada gênero possui uma função social e por
isso são encontrados em todo lugar, pois segundo Koch & Elias, são diversas
as vezes ao dia em que lemos e nos comunicamos através de textos diversos,
tantas que seria impossível contabilizá-las.
3 – Por que os gêneros
são indicados pelos PCNs para ensino nas escolas?
R:
Porque é necessário ensinar aos alunos como e onde utilizar o que se aprende na
escola, pois “é
tarefa da escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes práticas
sociais que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade, com a finalidade de
inseri-los nas diversas esferas de interação” (PARANÁ, 2009. p. 48). Apoiar um ensino pautado nos gêneros é dar ao
aluno uma nova perspectiva e colocar o professor na sua verdadeira função de
educador de língua materna, que não é mais somente um especialista em textos
literários e científicos, mas sim um conhecedor das diversas modalidades
textuais, orais e escritas utilizadas na sociedade. Deste modo, a sala de aula
se transforma em um espaço para produzir e interpretar textos. Sendo assim, o
trabalho com o gênero daria ao aluno muitas oportunidades de interação social, o possibilitando de compreender a
intencionalidade dos textos com os quais ele se depara em seu cotidiano,
fazendo com que o aluno, de fato, se aproprie dos gêneros para se inserir em uma
comunidade letrada. (GODOY, 2012)
4 – Como se dá o
contínuo discurso, texto e gênero?
R: O discurso, de modo
geral, diz respeito à própria materialização do texto, agindo como o texto em
seu funcionamento sócio- histórico, é o resultado de um ato de enunciação,
dando-se na manifestação lingüística. Em suma, o discurso é a melhor forma de
observar a língua em suas atualizações no contexto prático. O texto trata do
objeto linguístico que vai além da frase, podendo ser ao mesmo tempo um
processo e um produto, assim, o texto envolve o léxico e a sintaxe e é um
evento comunicativo que envolve o produtor, o receptor e as condições de
produção. Já os gêneros tratam-se de textos orais ou escritos que se materializam
nas diferentes esferas comunicativas em que o ser humano está inserido. São
textos que encontramos na nossa vida diária que são constituídos da estrutura
composicional, do conteúdo temático, estilo e função social, por exemplo, o
diálogo familiar é um gênero oral, dá-se no discurso entre pai e filho e não
deixa de ser um texto materializado por meio da fala. Assim, o contínuo
discurso, texto e gênero estão intrinsecamente ligados.
5 – O que se compreende
por competência metagenérica?
R: Competência metagenérica,
segundo Koch& Elias, é a capacidade do indivíduo de identificar os
diferentes gêneros mesmo que estejam em diferentes suportes. Por exemplo, o
individuo, graças a sua competência metagenérica, é capaz de identificar um
bilhete mesmo que esteja escrito na parede.
6 – Como se constituem
os gêneros?
R: Segundo o conceito Bakhtiniano,
os gêneros se constituem de três elementos intrinsecamente ligados: o conteúdo
temático, a construção composicional e o estilo e ainda se tem a função ou
propósito comunicativo.
7 – Explique o que se
entende por estrutura composicional, conteúdo temático, estilo e função ou
propósito comunicativo de um gênero.
R:
O conteúdo temático, basicamente é aquilo que dizemos/escrevemos nas situações comunicativas em uma esfera
social. É o tema do qual se trata o gênero, por
exemplo, o artigo de opinião vai tratar de temas polêmicos da atualidade. Os
outros dois, a construção composicional e o estilo são definidos a partir do
conteúdo temático. A construção composicional compreende nos recursos gramaticais, lexicais
e fraseológicos empregados na construção do texto. A
respeito do estilo, podemos observar que alguns gêneros, como os literários,
são mais abertos para que a pessoa que o escreve marque a sua individualidade
no texto, mas nem todos os gêneros possibilitam esta reflexão da
individualidade do falante (BAKHTIN, 2003), ou seja, eles são caracterizados de
acordo com o estilo do gênero e não de quem o escreve, como é o caso, por
exemplo, dos textos de atividades
jurídicas. Por isso, não é válido perante as leis, um boletim de ocorrência em formato de
poesia, pois isto reflete a individualidade do escritor e não é esse o estilo que condiz com essa esfera social. O propósito comunicativo é para quem se
dirige o gênero e a sua função dentro da sociedade.
8 – Diferencie gêneros
textuais de tipo ou tipologia textual. Exemplifique.
R: Os gêneros textuais
são mais abrangentes e compreendem todos os textos e discursos que se produzem
nas diferentes esferas sociais. Já os tipos de textos ou tipologia textual são
mais restritos. São elas: injuntiva, narrativa, argumentativa, descritiva,
informativa e expositiva; por exemplo, um gênero pode conter vários tipos de
texto, mas com predominância de um.
9 – O que se entende por
intergenericidade (koch) ou intertextualidade/ hibridização intergêneros
(Marcuschi)? Exemplifique.
R: Intergenericidade ou intertextualidade /
hibridização intergêneros ocorre quando um gênero se dá nas formas de outro, é
bastante comum na esfera publicitária, pois eles precisam usar de várias
artimanhas a fim de vender o seu produto. Por exemplo, uma tirinha que
apresente as características de uma receita, o leitor, por meio de sua
competência metagenérica, saberá identificar que não é uma receita, e por isso
não a levará a sério a ponto de realizá-la, pois sua função não é de receita.
10 – Explique o que se
entende por heterogeneidade tipológica.
R: É quando se tem mais
de um tipo de texto presente no gênero em questão, uma narrativa e uma
descrição não serão iguais umas as outras, elas
apresentam tipos de textos narrativos e descritivos que os fazem ser
classificados como tal, mas não significa que são iguais. Koch ressalta que um
gênero pode apresentar duas ou mais tipologias textuais e que esse conceito não
se confunde com o de gênero textual.
11 – Analise alguns
gêneros do ponto de vista de sua composição, conteúdo temático, estilo, função
comunicativa e sua heterogeneidade tipológica.
R: O artigo de opinião
usa em sua composição de recursos argumentativos a fim de persuadir o leitor e
fazê-lo aderir o posicionamento do articulista, trata de assuntos polêmicos da
atualidade e é impessoal, o articulista usa de outras vozes para comprovar e
dar veracidade aos seus argumentos. A sua função, em suma, é persuadir o leitor
e informa-lo sobre o que está acontecendo; Em sua composição existe várias
sequencias tipológicas, mas há a predominância da argumentativa.
A charge, por sua vez,
é um tipo especial de cartum (maneira de emitir opiniões e acontecimentos do
dia a dia). O seu conteúdo temático refere-se à crítica humorística de um fato
político, por esse motivo é necessário saber o que anda acontecendo na
sociedade para entender a charge. Em sua construção composicional podemos
observar que as pessoas representadas têm suas características físicas
exageradas a fim de despertar o humor. O estilo da charge, assim, é por meio de
uma ilustração, satirizar um acontecimento político atual envolvendo uma ou
mais personagens. È considerada um poderoso instrumento de comunicação
sócio-político e tem um papel importante na história recente do Brasil,
funcionando também como uma maneira de liberdade de expressão, o que podemos
chamar de função social.
A notícia é um gênero
que se pauta na realidade dos fatos para nos informar sobre uma ocorrência, por
esse motivo é sempre atual, pois uma notícia de ontem ou do passado já não
interessa mais ao público. Assim, busca apoio em meios de comunicação como a
televisão, internet, outros jornais impressos ou não Seu estilo dá-se pela
imparcialidade de quem a escreve, pois diferente do estilo literário, onde o
autor deixa suas marcas e opiniões transparecerem, na notícia isso não é
viável. Sua construção composicional, portanto, é por meio de uma narração
técnica, relatar os fatos acontecidos. Assim
sendo, por relatar fatos condicionados ao interesse do público em geral, a linguagem
necessariamente deverá ser clara, objetiva e precisa, isentando-se de quaisquer
possibilidades que porventura tenderem a ocasionar múltiplas interpretações por
parte dos receptores. Sua função social
é explicita: busca informar os acontecimentos recentes de interesse da grande
massa. Quanto à tipologia usada, encontram-se a descritiva, a informativa e a
narrativa, com predominância da informativa.
12 – Explique o que são
suportes e esferas ou domínios discursivos. Exemplifique.
R: Ainda se tem uma
definição bastante vaga para suporte, pois a definição dessa palavra nos
dicionários de língua portuguesa nos deixa uma compreensão muito precária do
significado se tratando de gêneros textuais. Logo, tentando aproximar-nos o
máximo possível de uma “definição” adequada para o termo no quesito de gêneros,
entendemos aqui como suporte de um gênero “um locus físico ou virtual com
formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero
materializado como texto. Numa definição sumária, pode-se dizer que suporte de
um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e
mostra um texto.” (Marcuschi, p.8) Por exemplo, a carta é um gênero, mas o
papel é o suporte do gênero, a tinta é o material da escrita e os correios o
serviço de transporte desse gênero em questão.
Já as esferas sociais,
ou domínios discursivos, como ressalta Bakhtin, são as esferas da atividade
humana, não sendo consideradas como princípios de classificação de gêneros, mas
sim que indicam instancias discursivas, por exemplo, o discurso jurídico, o
jornalístico, militar, acadêmico e etc.
Não abarcam um gênero específico, mas propiciam o surgimento de vários outros,
constituindo, assim, práticas discursivas onde podemos encontrar um conjunto de
gêneros textuais próprios ou específicos daquela esfera, por exemplo, o boletim
de ocorrência é próprio da esfera jurídica, o dialogo familiar é próprio da
esfera familiar e assim por diante.
Referencias bibliográficas
BAKHTIN, M. Estética da criação
verbal. Tradução Maria Ermantina Galvão G. Pereira. 4. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.
BRASIL. Secretaria
de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:terceiro e
quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF,
1998.
GODOY, L. M. Gêneros textuais e transposição didática
realizada pelo livro didático. In: IX Seminário de Iniciação Científica
SóLetras Estudos Linguísticos e Literários, 2012, Jacarezinho: UENP, 2012.
KOCH, E. V. & ELIAS,
V. M. Ler e compreender: os sentidos
do texto. São Paulo: Contexto, 2006.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade.
In: DIONISIO, A.;
________________. Gêneros
textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWOSKI, A. M
(Org.). Gêneros Textuais: Reflexões e Ensino. Palmas e
união da Vitória (PR): Kaygangue, 2005.
________________. A questão dos suportes dos gêneros textuais.
Disponível em: <http://www.sme.pmmc.com.br/arquivos/matrizes/matrizes_portugues/anexos/texto-15.pdf.>
Acesso em: 17 Jun. 2013
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa: para os anos finais
do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Curitiba: SEED, 2009.